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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Como ouvirão se não há quem pregue?

Especialistas dão dicas para quem almeja se dispor à obra missionária, seja em âmbito local ou nos confins da Terra

Um significado de missão evangelística permeia o sentido de existência da Igreja, e não é para menos: foi o próprio Jesus que a comissionou para tal através da ordenança “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” (Marcos 16.15). Aliás, o Filho de Deus também foi um missionário, quando “deixou a sua pátria e se aculturou, contextualizou”, lembra o pastor e missionário entre os povos indígenas da Amazônia, Paulo Nunes, referindo-se à necessidade de que o missionário compreenda a realidade local onde vai atuar para fazer a sua mensagem compreensível.

Segundo o Centro para Estudo do Cristianismo Global (The Center for the Study of Global Christianity – CSGC), mais de 400 mil missionários deixaram seus lares, em 2010, para evangelizar em outros países. Nesta conta, o Brasil ocupa a segunda posição entre os países que mais enviaram missionários, com 34 mil obreiros, atrás apenas do Estados Unidos, que enviou 127 mil.

Como obra dotada de máxima urgência, o trabalho missionário demanda da Igreja a decisão de elevá-la de um mero departamento eclesiástico, cuja responsabilidade recai sobre poucos supostos “eleitos iluminados”, à prioridade sinalizada para todos os cristãos, que podem contribuir para a missão em áreas complementares.

E uma vez engajada, cada igreja define a sua forma de trabalhar com o ministério: algumas denominações possuem suas próprias agências missionárias, outras não têm essa estrutura e trabalham em pareceria com projetos interdenominacionais. Há casos ainda de missionários que são enviados de forma independente, mesmo em denominações com estrutura para apoiar seus missionários.

Destinando o percentual de 54% de sua arrecadação para a obra missionária, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) atualmente trabalha com 140 missionários em 40 países, enviados pela Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT). As atividades da agência se concentram em 16 áreas, entre elas ação social, plantação de igrejas, ensino escolar e teológico, cursos profissionalizantes, tradução da Bíblia, entre outras. O candidato, que precisa cumprir uma série de exigências para ir a campo – enviar carta de apresentação da igreja, perfil psicológico, cursar seminário e treinamento transcultural, realizar estágio supervisionado etc. – pode sugerir um projeto com destino definido ou se dispor a atender à necessidade que estiver premente pela agência. Assim, em campo, o missionário sabe que não estará sozinho nesta jornada.

“Há toda uma logística visando à boa comunicação entre o missionário, a base e a igreja local. Temos arquivos com todas as informações necessárias, os quais podemos acessar em qualquer tempo e de qualquer local”, diz o executivo e missionário da base da APMT, reverendo Marcos Agripino.

Essa também é uma preocupação da Junta de Missões Nacionais (JMN), agência missionária pertencente à Convenção Batista Nacional (CBB), criada em 1907 e que tem como foco o trabalho de plantação de igrejas. – “Temos divisões estratégicas de regiões e os missionários são acompanhados em campo de diversas formas para que não haja isolamento. Trabalhamos com missionário líder, chamado líder de polo, que acompanha uma determina região, fazendo pastoreio, acompanhamento e mentoria. O líder de polo, por sua vez, é acompanhando pelo coordenador e, este, pelos gerentes regionais”, explica o gerente operacional de projetos da JMN, Renato Gomes.

Sem deixar de lado aspectos práticos, a JMN inclui em seu planejamento assistência à vida pessoal e familiar do missionário, que recebe, por exemplo, cobertura de plano de saúde, retenção de INSS e um mês de férias. Esses gastos são supridos pelo sustento financeiro, que é levantado pelo missionário no momento de captação de mantenedores para a obra, antes da viagem. Os recursos (chamados prebendas), porém, são administrados pela junta, conforme o orçamento destinado ao projeto missionário em questão. Havendo excedentes, o recurso é canalizado para outro missionário, ajudando a criar uma rede colaborativa. Investimento também é feito na área de formação educacional, com a junta firmando parcerias com seminários da denominação para oferecer ensino teórico e embasamento teológico necessário.
A seara também é aqui

O mesmo estudo do CSGC, citado no início da matéria, aponta um desequilíbrio: as dez nações que mais enviaram missionários internacionais, em 2010, somando 73% do total de pessoas, foram destino de 32% desse esforço. Ou seja, grande parte dos missionários têm se deslocado para países já evangelizados – os nove países que mais receberam missionários, cerca de 34%, abrigam apenas 3,5% do total de não cristãos. Em resumo, parece que chegou a hora de a Igreja entender missões como um trabalho também do lado de cá das fronteiras; em Judéia e Samaria e não somente nos confins da Terra (cf. Atos 1.8).

Quem tem experimentado essa realidade é a missionária Miriam Zanutti, 46 anos, formada em teologia, história e mestre em missiologia. Após percorrer o Brasil e outros países em diversas frentes missionárias, desde os 25 anos, quando iniciou o ministério, ainda solteira trabalhando como deã, capelã e líder de ministério de missões em parceria com diferentes denominações, recebeu o chamado de Deus para olhar a necessidade de seus conterrâneos. – “Entendo que, na medida em que fui crescendo espiritualmente, amadurecendo a vocação e adquirindo mais conhecimento, o trabalho missionário foi ampliando”, conta Miriam, que hoje atua com etnias dentro do Brasil, principalmente árabes, e compõe o projeto Desafios de Minas, com foco nos quilombolas no estado mineiro, onde existem 477 comunidades, além de ciganos.

Atendendo ao chamado de Deus em um apelo na igreja, a missionária logo resolveu se preparar da melhor forma possível para o ministério e aconselha: – “Acredito que cada pessoa tem uma vocação especial e, por isso, Deus dirige os passos de formas diferentes. Contudo, a formação acadêmica, conviver com outras pessoas que estão à nossa frente, que percorreram caminhos que ainda não trilhamos, e só o tempo nos fornece, é de fundamental importância para os que possuem chamado missionário”. E acrescenta: – “Todos possuem dons naturais e que podem ser aperfeiçoados através de cursos técnicos ou superiores. Saber qual a inclinação profissional enriquece mais ainda quando se está atuando no campo missionário”.

Robert Amorim, professor e diretor da Faculdade de Teologia e Missões (Fatem), de cunho interdenominacional, também vislumbra possibilidades locais. – “Lutar pela informação, transformá-la em conhecimento e vivê-la fará com que o candidato se torne sábio e tenha informação sobre as necessidades de campo. Por exemplo, existem lugares no Brasil que precisam mais de missionários que alguns lugares na África”, conta ressaltando que, ao indicar alunos para a instituição, o missionário ainda pode levantar recursos para o autossustento. – “Nosso propósito é que o missionário entenda que ele precisa ‘fazer tendas’ como Paulo, pois Deus nunca chamou desocupados. Davi estava cuidando das ovelhas do pai, Gideão, malhando trigo no lagar”, ressalta Amorim.

Para ajudar os que estão ainda no processo de descoberta da sua vocação, a Fatem, que oferece cursos de bacharel em teologia e missões e especialização em missões por meio de videoaulas, propõe aos candidatos uma prova que funciona como teste vocacional. Depois, o candidato poderá optar por um curso e, como parte da formação, realizar três viagens missionárias: uma dentro do próprio estado, outra fora do estado de origem e a última fora do país, hospedando-se em bases amigas da Fatem. 


Missões de curta duração

Marcos Vinícius Marins, 34, começou a se interessar por missões, em 2004, lendo a revista da missão Portas Abertas, organização cristã que apoia cristãos perseguidos pelo mundo. A partir de então, ele, que é membro da Igreja Congregacional, tem frequentado congressos e visitado bases e campos missionários, conciliando o trabalho profissional como nutricionista em Rio das Ostras e Armação de Búzios (RJ) com viagens missionárias de curto prazo, que realiza nas férias. Em 2011, viajou para Pando e Montevidéu, no Uruguai. Em 2012, retornou para o Uruguai com uma equipe de 11 pessoas, incluindo esposa e filha, para fazer um projeto de dez dias em parceria com a Igreja Batista de Pando. Ainda em 2012, visitou um trabalho congregacional em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia. E, neste ano de 2013, conheceu algumas regiões da Ásia, como Emirados Árabes e Indonésia (Ilha de Java e Bali), junto com a Missão Horizontes.

Segundo Marcos, viagens de curto prazo também podem ser consideradas missões e têm a capacidade de confirmar a vocação de uma pessoa que, embora não venha a se tornar um missionário de tempo integral, poderá ser despertada a mobilizar-se, interceder e investir no ministério. Este tipo de viagem, na visão dele, traria vantagens adicionais. Entre elas, a de encorajar os missionários visitados, ajudando-os a realizar trabalhos mais amplos que não conseguiriam fazer sozinhos, como ação social global, e a de servir de correspondência entre o campo e as igrejas.

“Como me sinto chamado por Deus para estar envolvido com missões, esse tipo de trabalho é essencial para a minha vida; isso me completa. E acredito que tem sido importante para a nossa igreja também, visto que nesses anos muitos irmãos estão se envolvendo e se importando com a obra missionária”, afirma Marcos.
Quem pode ser um missionário?

Enquanto uns deixam sua casa, cidade, país e desenvolvem uma forma peculiar de trabalho missionário, Miriam Zanutti lembra, contudo, que o chamado é para todo cristão.

“Todos nós temos que cumprir o ‘ide’. Ninguém deve ficar de fora. A questão é saber qual o ‘ide’ de cada um. Não estou falando em geografia, falo de serviço, vocação, dom. A uns, Deus chamou para crianças deficientes mentais, outros, para tribos indígenas, outros, para traduzir as Escrituras na língua de um povo, outros, para dar refrigério aos que sofrem nos hospitais, outros, para consolar os enlutados, outros, para plantar igrejas no sertão nordestino, outros, para evangelizar ateus na Europa, outros, para levar as Boas Novas aos povos africanos etc. Então, você pode e deve ser um missionário”.


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